Marcos Tosi
Gazeta do Povo
O mercado brasileiro vive um período de queda nos preços da carne bovina devido a um fenômeno conhecido pelos técnicos como ciclo pecuário. A oferta maior de boi gordo, que Lula e o PT trombeteiam como uma “promessa de campanha cumprida”, não tem qualquer relação com ações do atual governo.
Trata-se principalmente, dentre outros motivos, de resultado da ampliação dos rebanhos feita pelos pecuaristas há dois ou três anos, quando os preços da carne estavam em alta e uma nova administração petista ainda era apenas uma hipótese remota.
O ciclo atual, de aumento de oferta, coincide com redução dos preços pagos pelo boi-China (animal mais jovem) e com milho mais barato devido à safra histórica de 130 milhões de toneladas. Recebendo menos por arroba, os criadores temem entrar no vermelho e acabam se desfazendo de matrizes (fêmeas), o que resulta em ainda mais carne lançada no mercado.
QUEDA DOS PREÇOS – Diferentes projeções do IBGE, do banco Santander Brasil e da LCA Consultores apontam que 2023 deve fechar com deflação dos preços da carne entre 10% e 11,35%. Seria a maior queda desde o início do Plano Real, em 1994.
Uma tendência de mudança de ciclo pecuário que os petistas logo trataram de relacionar às promessas de campanha de Lula, que, em agosto de 2022, em entrevista ao Jornal Nacional, afirmou: “O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”.
Diante da deflação da proteína animal, o site do PT reproduz um tuíte do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta: “Lula prometeu e cumpriu (…) Prepara a brasa que o preço da carne despencou e vai cair mais!”. Outro que buscou faturar em cima dos preços do filé foi o deputado Rogério Correia (PT-MG), que também postou: “Lembra durante a campanha quando Lula dizia que o preço da carne ia cair? Pois é, ele cumpriu e prometeu”.
DISCURSO POPULISTA – Os petistas, assim, tentam faturar em cima do que não construíram, e nem sequer contribuíram para o resultado. “Foi uma grande sorte deles, pegaram o governo com esse discurso da picanha e com o ciclo pecuário ajustando para baixo. Seria especulação dizer que o Lula tinha conhecimento do ciclo pecuário, acho que foi um discurso populista mesmo (de carne mais barata), de prometer sem medir qualquer consequência”, avalia Lygia Pimentel, analista-chefe da consultoria Agrifatto (SP).
Lygia Pìmentel, que é economista e médica veterinária, lembra que a mesma retórica foi utilizada pelo presidente Alberto Fernandez, na Argentina, que prometeu baixar o preço da carne, mas se deu mal porque por lá o ciclo pecuário estava em viés de alta de preços.
Ironicamente, o mesmo governo petista que comemora agora a queda do preço da carne, sem ter contribuído para isso, poderá enfrentar em 2026, ano de eleição presidencial, uma situação oposta: bife mais caro, pressionado pelo ciclo pecuário de alta. Se isso se confirmar, o assunto “picanha”, festejado agora, poderá virar uma pedra no sapato da campanha eleitoral petista.