Carlos Newton
Em maio de 2015, no auge da Lava Jato, a corregedora nacional de Justiça, ministra Nancy Andrighi, determinou a abertura de procedimento contra o ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para apurar as relações íntimas entre o magistrado e o empreiteiro Léo Pinheiro, sócio da construtora OAS e um dos empresários investigados na Operação Lava Jato.
Ao longo das investigações, a Polícia Federal grampeou a troca de mensagens telefônicas que mostraram a proximidade entre os ministros Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), Benedito Gonçalves e o dirigente da OAS.
PROCESSO SIGILOSO – Dias Toffoli conseguiu sair de fininho, mas o Conselho Nacional de Justiça abriu processo contra o ministro Benedito Gonçalves, em procedimento sigiloso, mas no pedido de providências o magistrado foi intimado a apresentar defesa escrita para esclarecer a proximidade com o empreiteiro e possíveis laços de tráfico de influência.
Na época, a revista Veja teve acesso a um relatório produzido pelos investigadores da Operação Lava Jato sobre as provas encontradas em celulares de Léo Pinheiro, demonstrando a intimidade com o ministro Benedito Gonçalves, que aparece marcando encontros com o empreiteiro em São Paulo e no Rio de Janeiro e combinando a ida à festa de aniversário de Toffoli.
Em outra mensagem, um dia após a reeleição de Dilma Rousseff, o ministro do STJ comenta o resultado eleitoral e dá indicativos de que o empreiteiro, amigo íntimo do ex-presidente Lula, poderia trabalhar para que ele conseguisse ser nomeado para o Supremo, a maior corte do país.
AJUDA VALIOSA – Veja esta mensagem que Benedito Gonçalves enviou a Léo Pinheiro: “Meu amigo, parabéns, o ano 2015 começou ontem. Agora preciso da sua ajuda valiosa para meu projeto”.
Para os investigadores, o projeto a que ele se refere é a nomeação para o Supremo. Gonçalves era cotado para assumir a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, que acabou sendo preenchida pelo procurador gaúcho Edson Fachin.
A intimidade com o empresário era tamanha que Benedito Gonçalves conseguiu um “mensalinho” da OAS para o filho que trabalhava num cartório carioca. Ao depor, Léo Pinheiro contou também que o ministro do STJ lhe pedira que arranjasse ingressos para a Copa do Mundo.
PROCESSO EXTINTO – Estranhamente, o processo contra o Benedito Gonçalves ficou travado no Conselho de Justiça, até que a procuradora-geral Raquel Dodge foi obrigada a declarar o procedimento extinto por prescrição (passagem do tempo).
Nem mesmo essa investigação foi capaz de fazer o ministro se afastar dos empreiteiros. Em maio de 2017, causou espanto no STJ a mudança de voto de Benedito Gonçalves a favor da construtora Carvalho Hosken, numa ação bilionária que se arrastava há anos.
Gonçalves já havia votado a favor do município do Rio de Janeiro e de repente mudou de ideia, num processo em que a Carvalho Hosken pedia uma indenização bilionária pela desapropriação de uma área na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
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P.S. – Bem, este é o perfil do ministro que conseguiu levar o TSE a aprovar a cassar o deputado Dallagnol, num julgamento estranho, que o ministro Marco Aurélio Mello, recém-aposentado no Supremo, considerou ter sido “combinado” entre os magistrados da corte eleitoral. Logo mais, voltaremos ao assunto, sempre com informações exclusivas e rigorosamente verdadeiras.