Carlos Newton
Como quase todo mundo, já fui admirador de Lula da Silva, quando era um expressivo líder sindical. Àquela altura, ainda não sabia que se tratava de uma cria dos irmãos Villares e do general Golbery do Coutto e Silva, tinha sido informante da ditadura, sob codinome “Barba” e prestara serviços ao então superintendente da Polícia Federal em São Paulo, delegado Romeu Tuma, que anos depois se tornaria senador malufista, e tudo isso para rachar o trabalhismo e inviabilizar a candidatura de Leonel Brizola.
Vida que segue, diria João Saldanha, e o acaso fez com que em 1987 eu viesse a conhecer o então deputado federal Lula, quando assumiu seu mandato na Constituinte. Aliás, fui eu quem o apresentou a Delfim Neto, exatamente no dia da abertura dos trabalhos parlamentares, e os dois se tornaram grandes amigos.
MÁQUINA DO TEMPO – Várias décadas depois, Delfim Netto se aposentou, Lula está pela terceira vez na Presidência da República e eu continuo aqui “a dedilhar as pretinhas”, como se diz no linguajar dos jornalistas.
Nesse espaço de tempo, o delegado Márcio Anselmo e três agentes federais começaram a investigar uma lavagem de dinheiro num posto de gasolina de Brasília, foram desenrolando o novelo e descobriram a incrível corrupção na Petrobras, classificada como o maior esquema do mundo.
O resto todo mundo lembra. Foi um tremendo lamaçal, dirigentes da Petrobras, políticos importantes e empreiteiros bilionários foram para a cadeia e levaram junto o próprio Lula da Silva.
MÃOS LIMPAS II – No entanto, como ocorrera antes no mega esquema de corrupção na Itália, alvo da Operação Mãos Limpas, também no Brasil houve uma reação das elites políticas, empresariais, administrativas e judiciais. E assim foram inventadas “narrativas” e teorias conspiratórias, para tudo voltar ao normal.
Neste embalo, o emporcalhado Lula foi solto e depois conseguiu voltou ao poder, a pretexto de evitar o golpe de estado pretendido pelo trêfego e destrambelhado Jair Bolsonaro, e nem os roteiristas de Hollywood jamais demonstraram tamanha criatividade.
Até aí, tudo bem. O que ninguém esperava é que Lula estivesse tão desequilibrado quanto Bolsonaro, conforme estamos constatando agora. Ele fala as maiores asneiras, a ponto de culpar o Departamento de Estado dos EUA pela Lava Jato, com objetivo de destruir as empreiteiras brasileiras, como se o delegado Márcio Anselmo jamais tivesse existido e os empresários corruptos não tivessem se oferecido para devolver R$ 7 bilhões à Petrobras.
P.S. 1 – Meus amigos e amigas, Lula está claramente desorientado, desatinado e descompensado. Diz que o plano da PCC é armação de Sérgio Moro, parece Bolsonaro denunciando a ameaça comunista. O pior é que no governo ninguém tem coragem de contradizer o presidente petista, que criou a teoria de que “o dinheiro tem de sair de onde está e ir para onde deveria estar”. Isso resolve tudo, é lógico.
P.S. 2 – Bem, diante dessa situação, que é claríssima, mas ninguém comenta, somos obrigados a repetir os antigos comunicados fúnebres: “Cumprimos o doloroso dever de anunciar que isso não vai dar certo”. Ou o núcleo duro do PT e do Planalto enquadra Lula, para deixar que Fernando Haddad e Simone Tebet governem, ou podemos acabar nas mãos de Geraldo Alckmin, que pode ser um problema ainda maior. Pessoalmente, confio muito mais em Haddad e Tebet. E o resto é folclore, diria nosso amigo Sebastião Nery.